Ana Carolina Cavichia Rego Martão
Fisioterapeuta
A participação de profissionais de embasamento corporal, como o fisioterapeuta, tem se tornado cada vez mais necessária nas equipes de saúde mental, devido à busca por terapêuticas capazes de minimizar as alterações corporais apresentadas pelos portadores de transtornos mentais. Contudo, a literatura científica acerca do tema ainda é restrita a poucos estudos.
Dentro do conjunto de manifestações que caracterizam os transtornos mentais, ocorrem alterações na estrutura corporal e no movimento, tais como dificuldades na execução dos movimentos, tensões e rigidez muscular crônica, alterações posturais, padrão anormal de respiração e prejuízo da expressão corporal.
A presença dessas alterações corporais, que podem acontecer em decorrência do próprio transtorno mental ou pela ação prolongada de medicamentos psicotrópicos, interfere significativamente na realização de atividades cotidianas e nas relações interpessoais.
Os trabalhos de intervenção corporal no hospital Dr. Adolfo Bezerra de Menezes têm como foco principal o retorno à realidade do corpo, tão distanciada, para o portador de transtorno psíquico.
A fisioterapia dispõe de inúmeras possibilidades terapêuticas capazes de aprimorar a funcionalidade motora, auxiliando a reestruturação dos aspectos físicos e psíquicos do indivíduo, promovendo, assim, seu processo de reabilitação.
A atuação do fisioterapeuta na equipe é necessária fazendo da fisioterapia uma somatória terapêutica.
As atividades corporais das sessões foram estruturadas basicamente em seis momentos, quais sejam: interiorização, aquecimento, toque terapêutico, trabalho de imagem corporal, expressão corporal e relaxamento.
1. Interiorização: auxiliar o indivíduo a restabelecer o contato consigo, conduzir os participantes ao hábito de perceber e sentir seu corpo.
2. Aquecimento: preparar o corpo para executar os exercícios físicos, ativando as funções do organismo e prevenindo lesões. Desenvolvido através de exercícios cinesioterápicos para coordenação motora, equilíbrio, alongamentos e fortalecimento muscular. Nesta fase também é realizados exercícios para correção postural, dinâmicas de movimento espontâneo e dinâmicas de integração grupal.
3. Toque terapêutico: minimizar a dificuldade para estabelecer contato físico, promover corpos mais livres de bloqueios e mais preparados para o convívio social. Foram utilizadas técnicas de massagem, automassagem e dinâmicas de contato corporal.
4. Imagem corporal: a imagem corporal de portadores de transtornos mentais reflete um mundo interno marcado pela cisão do psiquismo, acentuada indiferenciação afetiva e intelectual. A imagem corporal foi trabalhada em todas as atividades da oficina, através do movimento, da correção postural, da interação grupal, da expressividade e da interiorização. Contudo, foi uma atividade especialmente realizada através de dinâmicas com espelho.
5. Expressão corporal: permite o despertar do corpo a partir de três níveis: a) ensina a tomar posse do corpo – reconhecê-lo, em suas possibilidades e em suas limitações; b) ensina a exprimir sensações através do movimento; c) ensina e promove o encontro com o outro, facilitando a comunicação verbal e a interação social.
6. Relaxamento: diminuir tensões físicas, despertar sensações de quietude mental e leveza corporal, promover a autovalorização, estimular a serenidade, paz interior, confiança nas outras pessoas e em si mesmo. Permite também reforçar os conteúdos trabalhados durante a sessão.